21 de abril de 2010

Indeterminismos vulcânicos...

Sentado no comboio de regresso a Potsdam dei por mim a re-pensar sobre os fenómenos probabilísticos que se intrometem nas nossas vidas. Dei por mim a reflectir sobre as possibilidades que ligam uma erupção vulcânica a uma salsicha.


Como vem sendo notícia, os voos programados para o espaço aéreo Europeu têm sofrido atrasos devido à pluma de cinzasdo vulcão Eyjafjallajokull. Este facto lavou a que ontem os organizadores desta conferência entrassem em contacto comigo pedindo amavelmente para substituir um dos oradores que, por cancelamento do seu voo, não poderia estar presente. Eu aceitei apesar do pouco tempo que dispunha.

Eram já cinco da tarde quando abandonei a sala do Ministério dos Negócio Estrangeiros Alemão onde a conferência teve lugar. Caminhei pela Friedrichstr em direcção à estação de comboio quase sem reparar na multidão de pessoas que a povoavam. No meio delas deparei com um sem-abrigo, algo que não é muito comum por aqui. Imediatamente reparei que ele tentava vender jornais às pessoas que passavam, pessoas que simplesmente iam ignorando os seus pedidos.

Decidi comprar um dos jornais. Como sempre acontece tinha a oportunidade de negociar o preço mas não o fiz. Deitei a mão ao bolso direito e dei-lhe todo o dinheiro que na altura tinha por lá, no total 2,35 euros. Ele agradeceu e dirige-se imediatamente até um senhor que estava a vender salsichas com pão do outro lado da rua. Compra uma salsicha e literalmente devora-a a poucos metros do local onde ainda à instantes nos cruzámos.

Se o tal vulcão ficasse adormecido e eu não fosse chamado a ter que me deslocar a Berlim teria o sem-abrigo vendido o jornal que lhe proporcionou uma ténue alimentação? Será que estas duas situações estão relacionadas? Bem, relacionadas estão. Na verdade, basta procurar fundo o suficiente para encontrar relações entre as coisas mais arbitrárias neste Mundo. Isto não indica contudo que essas relações sejam válidas...

A pergunta que queria deixar em aberto não é sobre o relacionamento estatístico, lógico ou esotérico destes dois acontecimentos, mas sim, onde desenhamos a fronteira para as consequências das nossas acções. Isto é, a partir de que ponto me tornei o responsável pela alimentação do sem-abrigo e a partir de que ponto o vulcão deixou de ter influência no rumo dos acontecimentos.

Bem. Só agora reparei que se tais fronteiras forem possíveis de desenhar então isso deve indicar que vivemos num Mundo Newtoniano, algo que está em contradição com o título deste post. Dúvida, dúvida...

Abraços...


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